Para entender como a música influencia nosso cérebro, é fundamental conhecer como esse órgão funciona. O cérebro é composto por uma unidade funcional chamada neurônio. Estima-se que possuímos cerca de 86 bilhões de neurônios, de acordo com pesquisas recentes realizadas por cientistas brasileiros. Cada neurônio é responsável por receber e transmitir informações, estabelecendo conexões com outros neurônios—em média, cada um faz cerca de 10 mil conexões.
Nosso cérebro é dividido em várias regiões, cada uma com funções específicas, e ao sermos expostos à música, muitas dessas regiões são ativadas simultaneamente. Quando ouvimos música, o cérebro processa separadamente os elementos musicais: melodia (altura e intervalos das notas), ritmo (ordem, regularidade e duração das notas, além da velocidade), e timbre (a diferença entre uma mesma nota tocada por diferentes instrumentos ou vozes).
Ao ouvir música, uma região chamada tálamo é ativada. O tálamo é responsável por filtrar as informações sensoriais, decidindo quais serão enviadas para outras áreas do cérebro e quais serão suprimidas. Ele nos permite focar em um som específico em meio a diversos outros. A experiência musical também envolve o corpo caloso, uma estrutura que conecta os dois hemisférios cerebrais—o hemisfério direito, associado ao pensamento abstrato e artístico, e o hemisfério esquerdo, ligado ao pensamento lógico e analítico.
Os estímulos musicais também chegam ao córtex sensorial, responsável pelo processamento de informações sensoriais (audição, paladar, visão, olfato e tato). O córtex auditivo, por sua vez, diferencia a frequência e a intensidade dos sons. O ritmo é processado tanto pelo córtex motor, que controla atividades motoras, quanto pelo cerebelo, que auxilia na manutenção do equilíbrio, controle dos movimentos e aprendizado motor. É por isso que muitas vezes sentimos vontade de nos movimentar ou dançar ao ouvir música.
O córtex pré-frontal, que desempenha funções como atenção, pensamento crítico e expressão emocional, também é estimulado pela música. Desregulações nessa área podem causar problemas como falta de atenção, desorganização e ansiedade. Por isso, a música e a prática de instrumentos musicais são ferramentas valiosas na educação e na terapia, pois estimulam o desenvolvimento dessa região cerebral.
Além disso, o córtex visual, localizado na parte posterior do cérebro, é ativado quando ouvimos ou tocamos música, auxiliando na formação de memórias visuais. O hipocampo, outra estrutura cerebral crucial, é responsável pelo armazenamento de memórias de longo prazo e está intimamente ligado às emoções. É por isso que a música tem o poder de evocar lembranças e sentimentos profundos.
Um dos aspectos mais fascinantes da música é sua capacidade única de ativar ambos os hemisférios do cérebro simultaneamente. A música é uma das raras atividades que conseguem esse feito. O hemisfério direito, mais associado à criatividade, emoção e intuição, é altamente ativado pela melodia e harmonia, enquanto o hemisfério esquerdo, que lida com lógica, análise e organização, é envolvido no processamento rítmico e na estruturação temporal da música. Essa interação harmoniosa entre os dois hemisférios promove uma comunicação mais eficiente entre eles, fortalecendo o corpo caloso, que é a ponte que conecta os dois lados do cérebro. Essa capacidade de trabalhar os dois lados do cérebro pode ter efeitos positivos em outras áreas cognitivas, como resolução de problemas, criatividade e memória.
Toda vez que ouvimos ou tocamos uma música, nosso cérebro se ilumina, com praticamente todas as suas áreas sendo ativadas. A música, portanto, é uma ferramenta poderosa que vai muito além do entretenimento, contribuindo para a saúde mental e a educação. Agora que você entende o poder da música, pode utilizá-la de forma ainda mais consciente e eficaz.
Referências Acadêmicas:
- Peretz, I., & Zatorre, R. J. (2005). Brain organization for music processing. Annual Review of Psychology, 56, 89-114.
- Levitin, D. J. (2006). This is your brain on music: The science of a human obsession. New York, NY: Plume.
- Koelsch, S. (2005). Neural substrates of processing syntax and semantics in music. Current Opinion in Neurobiology, 15(2), 207-212.
- Patel, A. D. (2010). Music, language, and the brain. New York, NY: Oxford University Press.
- Zatorre, R. J., Chen, J. L., & Penhune, V. B. (2007). When the brain plays music: Auditory–motor interactions in music perception and production. Nature Reviews Neuroscience, 8(7), 547-558.